Quando uma pessoa inicia um processo de psicoterapia, ela geralmente chega com questões que estão se repetindo por muito tempo, mas por causa de tanta confusão mental, ainda é difícil vislumbrar uma possibilidade diferente de encarar. No começo podemos sofrer um pouco, mas com o tempo torna-se possível reorganizar o caos.
Num primeiro momento as coisas são praticamente jogadas na nossa cara para resolvermos do jeito que der. Na falta de referências, ficamos na teimosia de resolver uma coisa de um jeito que não está funcionando e nisso endurecemos, ficamos fechados dentro de uma única visão. Conforme vamos olhando para a mesma situação de um ângulo diferente, começamos a criar um novo repertório e conhecer novos caminhos. Mas e como fazer para mudar a visão se ainda não temos uma outra forma de enxergar disponível?
Em primeiro lugar, podemos começar a enxergar um problema persistente simplesmente olhando para ele de forma mais amena. Quando identificamos algo que nos incomoda querendo logo que ele suma, mais forte ele fica, mais poder damos a ele. Vale a pena uma postura de “ok, é esse problema X que vive se repetindo e até agora lidei com ele de forma tal. Quem sabe não podemos construir uma nova forma de relação?”. Isso gera uma abertura maior em nós e assim já quebramos um pouco da rigidez.
Apenas o fato de nos abrirmos para a ideia de novas possibilidades já permite uma maior sensibilização para os acontecimentos. Esse é um salto de consciência e o segredo dele está em adquirirmos o olhar de observador ao invés de querer eliminar o que perturba. Com essa sensibilidade vamos aprendendo a captar as coisas mais rapidamente que antes passavam despercebidas. Começamos a observar certos padrões (em nós mesmos, nas situações) e também nos atentamos mais para nossas fragilidades. Vemos quais circunstâncias nos deixam desconfortáveis, quais desconfortos são esses, como costumamos reagir ou tentar resolver e isso vai facilitando o entendimento de como funcionamos até agora.
É importante reconhecermos nossos pontos frágeis não para eliminá-los, mas para saber onde eles se apresentam, em quais momentos aparecem, para que não precisemos mais cair tanto neles. Aos poucos vamos ficando mais espertos com as armadilhas que costumam nos pegar e assim podemos desviar delas. Nos tornamos menos reféns das situações, pois já compreendemos melhor como elas reverberam e não precisamos gastar tanta energia brigando com elas. Desafios sempre estarão presentes, mas podemos sim lidar com eles de forma mais leve.