Para fazer cortes há muitas ferramentas: facas, espadas, foices, tesouras, navalhas. Cada uma com um formato diferente, um jeito certo de ser manuseada. Quando algo que traz um desgaste começa a nos rondar, esse é um sinal forte de que um corte precisa ser feito. Agora, a pergunta é: quais ferramentas usar?
Tem cortes que demoramos um tempo para fazer, às vezes se tornando tempo demais. Outros podem ser mais precoces, às vezes ocorrendo cedo demais. Um relacionamento que está passando por momentos difíceis, por exemplo, vai exigir qual tipo de corte? Aquele que finaliza a relação por completo ou que vai mais para uma nova delimitação de acordos?
Um bom parâmetro de avaliação é perceber o quanto alguma situação está gastando nossa energia. Se pequenas delimitações que vão sendo feitas já trazem um bom resultado, isso indica que não é preciso uma alternativa radical ainda. Quando reaparecem as mesmas questões, desgastando novamente e trazendo aquela sensação de que a coisa não está saindo do lugar, pode ser que seja necessário usar um instrumento mais potente.
Há também situações em que fica claro que um corte mais direto é necessário. De alguma forma o corpo, a mente e a intuição já sabem, mas mesmo assim o momento se adia. Qual a lição? Às vezes, para conseguir fazer um corte maior, outros menores precisam ser feitos aos poucos, como um processo em etapas. Nem sempre estamos completamente preparados para um corte grande e definitivo. Os menores representam as pequenas retiradas de projeção, que são os momentos em que vamos ganhando uma clareza maior sobre uma situação, conseguindo ver melhor os pontos cegos e assim ir afiando nossa lâmina. Um corte definitivo só é possível na medida em que as ilusões vão se desfazendo.
Todo corte que precisa ser feito traz um ótimo treino de perceber as sutilezas das coisas e olhar para a situação presente. É necessário adquirir uma flexibilidade de visão, para que possamos ver que algo foi bom até um determinado momento, mas no momento seguinte pode ser que já não esteja fazendo mais sentido. Algo muda, às vezes de forma muito rápida e passando despercebido por nós, mas podemos olhar para como a situação está sendo agora e perceber se é algo só de um momento específico ou costuma ocorrer com mais frequência, trazendo mais frustrações do que contentamentos. Se ficamos presos a um desejo de que as coisas permaneçam do mesmo jeito, quando, na verdade, já mudaram, maiores as chances de sermos nós quem nos cortamos, então, aprender a cortar é também uma forma de aprender a se preservar.






